Translate it =)

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

domingo, 9 de novembro de 2014

Fornecedor de fardos.

Vem o homem e pega sua mala, mala essa que foi oferecida por outro homem. Homem esse muito maior e mais poderoso que o primeiro. O primeiro sai. A mala não estava tão pesada. Na verdade estava bem leve... Ele a abre. Nada lá dentro.
O próximo da fila pega sua mala, uma mala grande e gorda. Retira-se, agradecendo ao Fornecedor de malas, que o olha com ternura e até dó. Ele vai para o canto e a abre. Lá, apenas alguns resquícios de parentes, velhos parentes que ele nem conhecera.
A próxima da fila é uma garotinha. Pequena e indefesa. Recebe uma mala enorme que mal pode carregar. E ninguém a ajuda, nem o Fornecedor. Apesar do tamanho, ela consegue levá-la. Também estava vazia. Os três se retiraram e foram encaminhados a outro setor: de orientações. 
- Bem, o que vocês devem fazer, é, prestem muita atenção agora (dizia o Encarregado D.): vocês vão descer. Sim, descer e viver! E conforme forem vivendo, encham as malas. Vocês mesmos vão poder enchê-las, aos poucos, claro! Mas o Fornecedor delas também poderá mandar alguma coisinha ou outra para vocês colocarem nas malas. Tomem cuidado com o que colocarem aí, viu! Pode ser que, uma vez colocada, nunca mais saia! Olhem beeeeem, o que colocam, escolham com calma, cuidado, carinho e sabedoria! Tenham muita sabedoria!
- O que é sabedoria, moço? Perguntou a pequena.
- Aaah, minha jovemzinha (falou o Encarregado se aproximando dela), sabedoria é algo que se adquire, que se ganha por meio da experiência. E experiência é aquilo que todos vocês vão ter assim que saírem daqui. Assim que começarem as vidas de vocês! Saibam que a vida é algo maravilhoso!! Algo que só ele tem o poder de te dar, e quando, ele te dá... Puxa! Que sorte a sua!! 
- ... (Ela se esforçava para entender as palavras do homem, enquanto os outros dois adultos já estavam à porta ansiosos para sair, carregando suas malas)
- Você compreendeu, pequenina? Vá! Vá em busca do que é seu! Saia e viva! Viva e encha sua malinha... Quer dizer, malão, né?! São poucos os que tem esse privilégio, sabia? De ganhar uma mala grande assim! Agora, vá! A sua porta já está aberta! Vá!
E ela saiu. Saiu, levando sua mala até encontrar uma luz. Luz que começou bem ofuscada e foi se abrilhantando a proporção que chegava mais próxima da sabedoria. Sabedoria essa que começava ali, em seu primeiro momento de vida. Em seu (re)nascimento.

O Fornecedor dá a nós, apenas o que podemos carregar, algumas coisas ficam por nossa conta! Encham as malas, maletas, malotes, malões de vocês com muito amor que o Fornecedor e o Encarregado (Destino) cuidam do resto!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Portuguesando

Nossa língua é tudo
Usamos a língua para comunicar
Para falar
Para pensar
Para estudar.

Usamos para ler
Para liderar
Para dizer
Para contar
E escrever.

O que é a língua?
é conter
é rever
é amar
é expressar

Língua é tudo,
é nada
é simples
é complicada

Português, você me conquistou
Aprendi a te amar,
Agora
Eu que costumo te ensinar

Natalie Torres G.

domingo, 5 de outubro de 2014

Haikai de Segunda VII

É tempo dia de "democracia".
Vamos lá! Todos pela 
"Cidadania".

Quadro que representa a democracia grega
no período antes de Cristo.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Haikai de Quinta

Não tem uma pedra no meio do meu caminho.
Não tem nada no meio do meu caminho.
Só harmonia e carinho,
no meu caminho.



Natalie Torres G. - 18/9 11:51

sábado, 6 de setembro de 2014

Na ponta do lápis 5

Capítulo V: Reaparecimento

Mesmo com as festas de fim de ano, as palavras do bilhete encontrado no chão, na madrugada do dia 24 para o dia 25, não saíam da cabeça de Mirian. "O que está reinando em casa que seria perigoso? Será que é um aviso premonitório - que diz o futuro? Mas porque Julinho escreveria isso? O que ele sabe que eu não sei? Espero que esse espírito ruim não seja pessoas do passado, aliás quero apagar meu passado..." Pensava enquanto andava pelos corredores de uma papelaria.

Já estavam em meados de janeiro, as aulas para começar, sua sogra para receber alta do hospital e Jorge... Bem, Jorge tinha melhorado um pouco, pelo menos agora, ele controlava mais suas crises de humor. Mantinha-se mais estável quando conseguia passar bastante tempo sozinho, o que tinha se tornado um hábito desde que Mirian se ocupara das compras de "volta às aulas" junto com os meninos.

As coisas de Jake eram, sempre as mais difíceis de comprar porque ele nunca se contentava com pouco, queria mais e mais. Um estojo de plástico com três divisórias e com estampa do "Homem-Aranha" não era bom o suficiente, tinha que ser um estojo grande, colorido, com todo elenco do filme e com cinco divisórias. 

- Mas só tem esse, meu filho!! Não está vendo que acabou o outro...
- E daí? Quero o maior, TEM-QUE-SER-O-MAIOR!
- Vamos levar esse e pronto. E sem choro. Ano que vem nós procuramos o maior. - Foi isso que bastou para o mimado Jacob estampar uma cara emburrada o resto do dia.
- Mamãe!! Mamãe!! - Chamava Júlio. - Quero esses aqui, pode?
- Pode, Julinho, pode. - Respondeu toda carinhosa para espanto e ciúme do irmão mais velho
- Aaaaah para ele você dá tudo!! Que saco, mãe!! - Berrou Jacob.
- Menino, para de gritar! Você, realmente, acha que eu vou negar um kit de apontador e duas borrachas para ele? 

Jacob começou a ponderar a situação quando viu no alto de uma prateleira uma mochila enorme, com alças para as costas, toda amarela com pintinhas pretas (feito a bolsa do desenho do Gato Felix), uma estampa do Gato na frente, com pelo menos seis bolsos espalhados onde seus olhos alcançavam e com uma novidade: RODINHAS. Ele ia começar a implorar pela mochila, mas ao virar para sua mãe viu em seu rosto uma expressão de medo e horror.

Mirian tinha acabado de ver uma pessoa que foi fundamental em seu passado, uma pessoa que mudou tudo na vida de Mirian, alguém que ela não via há mais de 10 anos, alguém que em 1986 sumiu. 

Ela não podia acreditar no que via. Achou que jamais voltaria a se reencontrar com ele. Deixou suas compras caírem no mesmo momento em que avistou seu primeiro namorado: Eric. Ele tinha sido seu primeiro amor, seu primeiro beijo e seu primeiro sonho adolescente. Na verdade, o único sonho dela, em todo sua vida, era construir uma família ao lado de Eric, até que ele a fez cair em uma brincadeira de escola em que se joga, cruelmente, um balde de mel e penas de galinha em cima dos estudantes que tiram notas máximas nas provas finais do último ano do colégio. 

Ela, até hoje, não sabia porque Eric tinha feito isso com ela, porque ela? Ele era o garoto mais fofo, mais atencioso e mais carinhoso do mundo quando estava ao lado de Mirian, porém quando se juntava com seus amigos, virava outro menino, parecia outra pessoa. Isso foi ficando mais intenso a partir do terceiro ano do colegial, quando todos os garotos disputavam a atenção das meninas mais bonitas da sala. Entretanto, Mirian, nunca, foi a que mais cobiçada, mas tinha suas qualidades genéticas. E mesmo ele tendo enganado Mirian com a brincadeira do balde de mel, ela percebera que devia perdoa-lo e o fez no mês seguinte. Eles voltaram e ficou tudo bem, por açgum tempo. 

Depois que saíram da escola, Eric e Mirian decidiram fazer a mesma universidade para ficarem juntos o maior tempo possível. Conseguiram, os dois, passar na mesma instituição, mas cada um foi fazer o curso que queria. Cinco anos depois, em 1984, ela se formava em Biologia e ele precisava de mais um semestre para terminar Educação Física. Namoraram pelos cinco anos da faculdade e mais seis meses. Enquanto se formava, é claro que Mirian conheceu muita gente. Muita gente do qual Eric não gostava.




Natalie Torres Guariglia - 6/9/14 17:20

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Na ponta do lápis 4

Capítulo IV: Um aviso escrito


Na noite de véspera de Natal, a família toda reunida: Mirian, Jorge, Jake, Júlio, os avós maternos, paternos e as duas irmãs de Mirian com seus maridos e filhos. Todas na casa de Mirian como sempre faziam. Era uma data especial, com farta ceia e muitos presentes (principalmente para as crianças) que eram abertos apenas à meia noite. Mas, quebrando as regras, Jorge pegou um embrulhinho em baixo da árvore iluminada e levou até Mirian, só que como de costume, ela não estava esperando presente nenhum da parte dele. 

- Para você, Mimi.
- Para mim? Tem certeza? - Perguntou incrédula.
- É!! Tem alguma outra Mimi aqui? - Respondeu de supetão
- Aaah tá, agora é você mesmo!! hahaha Obrigada mesmo assim, Jorge. 
- Você sempre desconfiada de mim... Credo, mulher!! Não posso nem tentar agradar você... - Virou e saiu andando para o outro lado da sala sem esperar ela abrir o pacote.
- *É, realmente, este homem está com problemas... Uma hora está me agradando e na outra está sendo estúpido, o que é mais normal no caso...* Pensou reticente.

Um mini livro com sonetos e frases célebres de seu autor favorito, Shakespeare, foi o presente de Jorge. Um presente que ela nunca iria esquecer; foi um dos únicos que recebeu em anos de seu marido, junto com a aliança de casamento em 1986 e um bracelete brega em forma de serpente no mesmo ano. O que estava estranho começou a ficar pior, o comportamento de Jorge naquela noite, não parou por aí: ele brincou com todas as crianças, seus filhos e sobrinhos, se vestiu com uma touca de Papai Noel e até puxou a cantoria no fim do jantar. O que ele menos gostava de fazer parecia estar sendo a melhor coisa do mundo: sociabilizar-se e demonstrar afeto.

- Mamãe, quero entregar os presentes!!! - Pediu Júlio.
- Hããã... Espera só mais uns segundos... (o grande relógio da sala soou 00:00) agora, pode, querido. - E deu um beijinho na testa dele.

Júlio adorava dar e distribuir presentes e doações, gostava de ver o rosto das pessoas se iluminando com o gesto de carinho dele. Era, definitivamente, a pessoa mais amorosa que morava naquela casa. Não sabia como nem porque, mas sua felicidade vinha da felicidade dos outros. Vinha da reprodução da felicidade alheia, quer dizer, nas palavras dele: "Vejo a felicidade, desenho ou escrevo a felicidade e aí sinto a felicidade. Simples!" Para uma criança, tudo era simples, inclusive, o ato de ser feliz. Elas encontram felicidade e amor igual uma abelha encontra pólen numa flor, em qualquer lugar, em qualquer pessoa. Menos em uma.

Um dos presentes com que Júlio mais se animou foi a caixa de 112 cores de lápis e também com o pacote de 36 cadernos com folhas pautadas dados ambos pela sua mãe. Ela conhecia seus filhos muito bem e faria qualquer coisa por eles. Até Jacob ganhou, mesmo não merecendo, um ótimo presente que adorou: um SuperMegaControlerCar, aqueles carrinhos de controle remoto que eram novidade nos anos 90. 

- Noossa, noossa!! Mãe, obrigado. Muito joia esse carro. - Gritava Jacob encaixando as pilhas no controle. - Olha que carro grande que eu acabei de ganhar, noossa, valeu, mãe!! Muito bacana mesmo. - Gritando mais uma vez, ele fazia inveja aos primos.

Depois da troca de presentes, muitos parentes se despediram e foram embora com a promessa de voltarem no dia seguinte para o almoço "sobrô"; os dois meninos, cansados de tanta brincadeira subiram para dormir; e Mirian e Jorge levavam a louça para a cozinha. Naquela noite, haviam dispensado os empregados.

- Não sei porque você quis dispensar todos os funcionários, agora temos que ficar arrumando!!
- É Natal, Jorge!! NA-TAL!! 
- Idaí? Eu tive que trabalhar em muitos natais para sustentar minha mãe e meu pai quando era mais jovem.
- Aah de novo essa mesma ladainha? Que saco, não me dá sossego nem no Natal... Achei que aquele presente significaria alguma coisa, alguma mudança sua. 

Eles, agora, se olhavam nos olhos.

- Esta noite, você pareceu outra pessoa, parecia até aquele Jorge que eu conheci em 1980, animado, feliz, cheio de personalidade, brincando e adorando crianças. 
- Bom, é que... O presente... É que eu passei numa livraria para comprar.... pra comprar a revista desse mês da empresa e vi esse livro do Xeiquêspire (ele realmente não falava inglês) e lembrei de você, Mirian. 
- Lembrou?
- Sim... Não é algo que eu faça com frequência, eu não fico pensando em você e em nossa família todo dia. - Falou se escondendo atrás de seu orgulho. -  Aliás nem faço questão disso, e é muito difícil para mim... Tentar mudar... Isso que têm acontecido, bom... Não sei explicar

Mirian ouvia, atentamente, com sede de mais palavras. Queria saber o que tinha de errado com Jorge e se isso tinha a ver com ela ou se era algo com o trabalho. Porque ele estava agindo dessa forma? Pensava

- Não que eu esteja reclamando, mas quero saber o que você tem. Estou cansada de lidar com um Jorge estúpido, mas também não dá para conviver com essas mudanças de humor. -Tentou dizer o que estava sentindo.
- Sei... Não prometo nada, só que ainda está tudo muito complicado, tanto na redação - ele era Vice-Presidente de uma importante revista nacional -  quanto aqui. Por enquanto,só digo que quero ter vocês comigo, ao meu lado.

Sem entender muito bem o que ele quis dizer, Mirian subiu para conferir os quartos das crianças. Ao entrar no de Jakeo viu dormindo agarrado no carrinho novo. No de Júlio, quase escorregou numa folha de papel que estava jogada perto do armário dele. Pegou a folha e leu com dificuldade (por falta de iluminação adequada): 

"Transformações que acontecem com ele; Irritações que se instalam com ela. Percebemos que algo diferente reina na casa; um espírito ruim invadiu este local; Não consigo identificá-lo; cuidado, casal."

Surpreendeu-se com as palavras rebuscadas. Guardou o papel. Algumas frases não saíram da sua cabeça durante aquela semana. "Cuidado, casal"? "Espírito ruim"? "Não consigo identificá-lo"?

Natalie Torres G. - 11/8 - 16:33

sábado, 9 de agosto de 2014

Na ponta do lápis - 3

Capítulo III - Mudanças em meses


A madrugada foi longa para Mirian e Jorge. Ela explicava para seu marido o que havia acontecido e que ainda estava com uma dor muito forte na cabeça. Ele ouvia atentamente:



- Parece que assim que saí do supermercado, algo me atingiu de dentro para fora na cabeça. E isso deixou uma sensação de latejamento. Dói até agora.

- Estranho... Você nunca foi de ter dores assim... Ainda mais enxaquecas!
- Pois é. Não consigo nem abrir os olhos que já me dói.
- Quer algum remédio, amor? - "Amor? Você nunca me chamou de amor!" Pensava confusa uma Mirian desconfiada.
- Pode ser, mas nada muito forte. Não quero apagar igual nos filmes... Só conseguir dormir, porque amanhã, tenho que fazer muitas coisas. Ai!! Só de lembrar já dói.

Jorge foi até a cozinha, no andar de baixo buscar o remédio com os pensamentos a mil: "O que eu to fazendo? Levar remédio na cama? Ah que paciência que eu tenho que ter com essa mulher. Se bem que, é melhor ela me ter do lado dela, do que do lado do...*pegando remédio* Bom, vamos lá, papel de bom marido."

Depois de resolvida com a polícia sobre o caso do "Farol vermelho" - era assim que a imprensa estava chamando -, Mirian estava terminando uma consulta com sua psicóloga Fábia, quando se lembrou de pedir um conselho à ela sobre casamento.

- O que você faz quando seu marido começa a mudar de personalidade? Um dia ele te xinga e é incompreensível e um tempo depois está te chamando de amor e cuidando de você...
- Olha, Mirian, pode ser que com esse incidente, ele tenha percebido que se te perdesse, nunca teria a chance de te agradar, nunca poderia ter demonstrado de verdade quem ele é, sem aquele orgulho todo de que você me conta.
- Sei... Sei... - Respondeu só por responder mesmo, porque nem ouviu direito o que Fábia tinha falado. Com a mente focada nas mudanças de Jorge, ela se despediu e foi embora. De táxi. 


Júlio e Jacob já tinham chegado em casa quando ela retornou do consultório. Entrou, passou pela sala, subiu as escadas, olhou no quarto do filho mais velho e o viu destruindo mais um boneco de Lego. No quarto de Júlio, tudo escuro com um fiozinho de luz de lanterna, embaixo de uma cabana (da Turma da Mônica) que ficava montada no quarto dele e o barulhinho confortante de lápis riscando uma folha. Não quis atrapalhar a criatividade de seu filho preferido e foi para seu quarto trocar de roupa.


O menino adorava pôr no papel tudo que passava pela sua cabeça. Tinha essa "mania estúpida" dizia Jake desde muito pequeno, desde que aprendeu a escrever (com 2 anos e meio) e que aprendeu a controlar suas habilidades motoras (com 2 anos). Não parou mais de pintar, de escrever, de colorir e de colocar tudo em forma de arte e depois, esconder. Escondia aquelas artes que, em sua mente, eram proibidas. 

Sua preferência era, notadamente, a escrita e por isso sua caligrafia era perfeita, quase como a de um adulto. Na verdade, muito melhor que a de um adulto. Um de seus textos preferidos era o que contava a história de como foi o primeiro dia de aula na escola em 96. "Todo mundo correndo quando bateu o sinal e eu estava perdido. Minha futura professora veio falar com migo (erros de gramática aconteciam com ele até mais ou menos os 4 anos) e me ajudou a chegar na sala de aula." Era assim o começo do conto intitulado "Escola, um novo mundo". 

O tratamento de Mirian com Fábia terminou muitos meses depois; as mudanças de Jorge se mantiveram muitos meses depois. Ele ficava cada vez mais amoroso e carinhoso. Chegou até a faltar no trabalho durante uma semana para ficar com os garotos nas férias de verão deles. Tinha alguma coisa acontecendo ali e Mirian sabia. Júlio também.

Natalie Torre Guariglia - 9/8/14 20h44

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

domingo, 3 de agosto de 2014

Na ponta do lápis.

Capítulo II: A fatalidade


A caminho da escola, Mirian dirigia e refletia sobre como ela aturou tanto tempo as promessas mentirosas de Jorge. Podia ter expulsado seu marido de casa naquela semana em que conversaram na porta do banheiro, mas sabia que se o fizesse, tudo mudaria em sua vida. E ela não estava apenas pensando nela e nos meninos, mas em algo muito muito maior que isso. 

- Tchau, mãe!! - Gritou Jacob, batendo a porta da picape. 
- Tchau, mamãe. - A última palavra de Júlio saiu abafada pela bochecha da mãe que estava recebendo um beijinho de despedia babado de criança. 
- Tchau, filhinho. - Respondeu baixinho sem enxugar o rosto e foi embora.

Mirian, apesar de não aparentar, era uma mulher forte, de garra e fibra que gostava de Jazz e Shakespeare. Tinha valores e seguia seu coração em quase tudo. E esse era o grande problema. Mirian ouvia a voz da emoção para fazer suas escolhas e decisões até que na conversa com seu marido naquele dia, ela percebeu que a razão devia falar mais alto. Para o bem de todos.

- Júlio! Júliooo, já te pedi para prestar atenção aqui na lousa.
- Hã? Desculpa, tia. (ainda chamavam as professoras de tia em 98). Me distraí. 
- Como sempre né? - Repreendeu a professora.
- Esse menino é muito estranho, não fala com ninguém, não presta atenção na aula... - Cochichou, Élli para sua amiguinha que falou bem alto para todos ouvirem:
- É, eu sei. Parece que está sempre em outro planeta. Ele é um ET!!
- hahahahahaha - Risada geral.
- Ta bom, ta bom!! Já riram bastante. E não, ninguém é ET aqui, Cora. Na próxima, você levará um bilhete!

Júlio era, realmente, um menino um pouco distinto das outras crianças. Gostava das mesmas coisas e brincadeiras, mas quase nunca se misturava. Gostava de se entregar à imaginação e ao pensamento, ficava mais a vontade sozinho. Aliás, sozinho não. Ficava a vontade com seu lápis na mão. 

Ele era um pouco alto para seis anos e tinha os mesmos cabelos curtos, lisos e negros de sua mãe na idade dele, era magricela e tinha lindos olhos verdes herdados de sua avó materna. Júlio usava óculos, poucos graus. Na verdade, era só para corrigir uma leve miopia que ganhou com a prática de escrever e pintar por horas sem tirar os olhos do papel.

Mirian passou no supermercado antes de voltar para casa e lá reencontrou um grande amigo do passado. Conversaram por alguns minutos e trocaram telefone e endereço para se comunicarem. Estava colocando as compras no carro, quando sentiu uma pontada no lado esquerdo da cabeça, mesmo assim decidiu que estava bem para dirigir.

Tontura e uma insuportável dor de cabeça atingiam Mirian que lutava para manter os olhos abertos em meio à claridade do meio dia. Pisou fundo e passou por pelo menos três faróis vermelhos. O último foi fatal. No cruzamento, um carro um pouco menor que a picape de Mirian bateu na roda frontal direita do carro dela, fazendo com que a picape parasse de correr. O carro menor, com a batida, capotou e seus passageiros não tiveram chances de socorro. Ao avistar a cena que tinha provocado, Mirian saiu do carro e correu para o telefone público. O resgate chegou, mas já não havia vida naquele veículo. Os paramédicos examinaram Mirian, que se queixava da dor de cabeça. Depois de ser liberada, pegou um táxi para casa.

- Olá, famííília!! - Cumprimentou Jorge.
- A mamãe bateu o carro e foi iradooo!! Saiu no jornal e tudo!! - Pulava todo animado (e inconvenientemente) Jacob.
- COMO? 
- É, eu estava com, com... Como foi que o médico disse? - Tentava explicar, a mãe.
- Enxaqueca. Foi essa a palavra que você disse antes, mamãe. - Completou Julinho.
- Médico? Você foi parar no hospital? - Um Jorge assustado se revelava ali.
- Não. Eles foram socorrer as pessoas... As pessoas que eu... Foi tudo minha culpa!! Eu não posso viver com isso. Não posso!! Eu matei uma família inteira. - Mirian chorava, falava, soluçava e se defendia ao mesmo tempo.
- Meninos, agora para os quartos!!
Júlio se levantou da mesa do jantar, pegou sua folha toda escrita e o lápis e saiu.
- Mas, paaai!!! - Pediu, Jake - apelido carinhoso/familiar de Jacob -
- AGORA! - Berrou Jorge.
E ele saiu.
- Não, não fale assim, eles não têm culpa de nada. Eu que sou uma assassina.- Mal conseguia pronunciar tais palavras.
- Calma, calma! Vai dar tudo certo. - Tentou acalentar o sofrimento de Mirian. Levou-a para o quarto e dormiram até mais tarde no dia seguinte.


Natalie Torres Guariglia - 3/8/14 - 21:17

sábado, 2 de agosto de 2014

Na ponta do lápis.

Capítulo I - 1998


Um fim de tarde frio de domingo, três de julho de mil novecentos e noventa e oito. Júlio tinha apenas seis anos, mas já entendia o que acontecia na ampla sala de sua casa numa área nobre de São Paulo.

- Escuta aqui, Jorge, eu não vou mais tolerar essa palhaçada!!
- Eu é que não sou obrigado a ficar escutando essas suas merdas!! Toda noite a mesma coisa!
- Me trair tudo bem, agora, tirar comida da mesa para satisfazer sua amantezinha? - Os olhos cheios d'água.
- O QUÊ? Eu sempre dei do melhor para vocês e para os seus filhos. Nunca tiveram do que reclamar e agora isso?
- Ah sim, claro! Porque eles são só MEUS filhos. Esqueceu que você tava lá quando os fizemos? E que eu me lembre, você adorou aquelas horas de prazer!!
- Não fale assim, Mirian. Eles estão olhando. - Falou Jorge abaixando significativamente sua voz.
Jacob, o mais velho, olhava fixamente para o pai e deixava uma lágrima escorrer pela face avermelhada, enquanto, Júlio segurava seu carrinho preferido com a mão direita, pressionando-o contra o ouvido direito e a mão esquerda contra o outro ouvido.
- Venham, meus amores!! Já passou da hora de vocês terminarem a lição de casa, não é? - Enxugava o rosto de Jacob e o seu ao mesmo tempo.

Levou os meninos para os respectivos quartos. Ao voltar, passaria, necessariamente, pelo banheiro espelhado (um lugar onde todas as paredes eram feitas de espelho, um espelho 360º. Até a pia tinha um pequeno espelho no fundo.) e sabia disso. Olhou para dentro dele e se viu. Se viu e enxergou uma mulher alta e magra, magra demais, loira tingida, roupas das melhores marcas e salto vermelho, vermelho esse que lembrava seu esmalte descascado. Adentrou o espaço, trancou a porta. Sua visão era boa e nunca a enganava. Levantou os olhos ao nível do rosto, rímel e lápis borrados, batom já inexistente e cabelo preso de qualquer jeito com fios soltos por todos os lados. Era o rosto de uma mulher enganada, acabada, desacreditada, desamorada e enlouquecida pelo medo de perder tudo que havia construído ao lado de Jorge, "o suposto homem da sua vida".

- Mirian? Mirian? - Ela escutou seu nome chegando mais perto.
- Mirian? - Jorge bateu na porta do banheiro espelhado três e calmas vezes.
- Me responde, Mimi. - Falou suavemente para tentar convencê-la a abrir.
- Que foi agora? - Ela respondeu com um tom bravo, mas em voz baixa. Sentada em cima da tampa do vaso, com as mãos na cabeça baixa.
- Eu te amo! É só que, estou com muita coisa na cabeça. - Jorge sentou-se no chão de costas para a porta.
- Sei... - Murmurou inaudível. 
- Sabe, eu nunca tive tanta coisa para fazer e tomar conta quanto agora. Tenho as despesas da casa, que são muitas e você sabe; tenho mais de 500 funcionários para orientar e liderar todos os dias; minha mãe está no hospital entre a vida e a morte. E os meninos. Queria passar mais tempo com eles. Mas não dá. Não dá. Não sei fazer isso. Não sem você, Mimi. E se eu te traí alguma vez? Já, claro que já. Precisei buscar fora, o que eu não encontrava aqui. Mas isso nunca mais aconteceu e nem vai acontecer. Eu prometo, como homem que sou, que nunca mais vou fazer tal coisa. Mimi?

Ela ouvia palavra por palavra, letra por letra saindo da boca dele, mas não conseguia saber o que era verdade e o que não era. 
Saiu do banheiro e disse (com a voz suave como nuvens de janeiro) uma pequena mas ameaçadora advertência: 

- Você está prestes a ser expulso dessa casa. Ou você muda esse seu jeito "sou o dono de tudo e tudo posso" ou você sai daqui AGORA! E pare de se justificar com a coitada da sua mãe e dos seus filhos. Eles nada têm a ver com os seus problemas. E enquanto a traição, já disse que não ligo. Se você precisa buscar amor fora de casa, realmente, sinto que falhei na minha função de esposa, entretanto, também não é com as suas putas que você vai encontrá-lo. Amor a gente enxerga dentro de nós mesmos, Jorge! Espero que tenha entendido tudo. Nunca mais vamos repetir essa conversa, ok? Acabou aqui o que começamos em 1986. 
- Espera - disse ele um pouco confuso. - Nosso casamento acabou?
- Ainda não. E ele está por um fio. - Mirian fez um sinal com a mão indicando "um fio". - Hoje, você não dorme comigo.

Atrás da porta de seu quarto, Jacob esforçava-se para ouvir a conversa dos dois, mas mal ouvia suas vozes. Não estava interessado no assunto da conversa (sabia que se reconciliariam), queria saber se eles iriam logo dormir para que ele pudesse voltar para a sala e assistir os novos canais de TV a cabo que chegaram ontem em sua casa. Apesar de bem abastados, os pais achavam que não deviam colocar televisões nos quartos dos meninos. "Prevenção é tudo." Afirmava Mirian.

Júlio, por outro lado, estava pintando o que conseguia ouvir. Pintou sua mãe alta e magra, magra demais abrindo a porta do banheiro espelhado, com uma cara triste e cansada, e seu pai, um homem de terno e gravata, com o rosto murcho e pálido; cansado também. Ambos cansados de tanta discussão. 

Dias depois, essa pintura foi para o mural de Júlio, que ficava no quarto dele escondido atrás do enorme armário. 


*Esse é o primeiro capítulo de um pequeno romance que estou escrevendo. Vou postar aqui no blog e em outras redes também para que todo mundo tenha acesso. Quem gostar, deixa um comentário, para eu saber opiniões. Obrigada*

Natalie Torres Guariglia - 2/8/14 - 18:56

sábado, 7 de junho de 2014

Esperança de um coração cansado.

Um coração apertado, dolorido e cansado
Ele busca um alguém, não sabe quem
Procura uma pessoa para preencher um lugarzinho
Guardado com carinho. Não é para qualquer homem,
Mas é para qualquer homem se sentir honrado em
Ser o escolhido. Às vezes, ele se sente acolhido.


Todos se encontram, menos nosso protagonista.
Seu Ying deve estar olhando para o Yang, mas
Não o pode ver. Essa cegueira o faz sofrer
No inverno e verão, precisa de alguém para
Acalentar ele mesmo, o coração.

Pensando bem...
Podia ter sido aquele, né? Não. De jeito nenhum.
Podia ter sido o mais novo, o sem experiência. Há chances? Ele se pergunta.
Podia ter sido o mais velho, o inteligente. Muitas diferenças. MUITAS.
Homens como esses valem cada sacrifício. Podiam ser todos.

O destino tem de estar preparando
Algo muito bom. Além desses todos.
Será?


Natalie Torres Guariglia

quarta-feira, 12 de março de 2014

"Corra, Lola, Corra"

Hoje em dia,
Correria.
Volta e meia
Comida fria.

Correria, heim,
D. Maria!
Cima e baixo,
Assino em baixo
Todo dia.

Que mania!
Correria
Às cinco horas
Madrugaria

Gritaria!
Às cinco horas,
Transitaria.
Pessoas na padaria.

Correria.
Eu
Correria.
Eu
Corro!

Todo
Santo
Dia, aquela
Correria.

Natalie Torres G.

domingo, 9 de março de 2014

Menina Mulher

"Você é parente da
Fulana Ravache?" 
Quantas vezes ouvi isso,
Por estar sempre ao seu lado?!

Alta, cabelos castanhos lisos e cheios
Olhos da cor do mar, 
Branca como a neve, mas 
Um pouco regalada!

Helô lindamente regalada.
Lindamente independente,
Lindamente inteligente
Lindamente simplesmente
Helô.

Samara, Bob, Cosmo, Madonna e Cinema...
Muito eclética né, 
Mas não é um problema.
Sabe lidar, agora, sabe!
E como.

Forte, 
Criativa,
É de touro, e aí,
Possessiva.
Entretanto, objetiva.

Vai e faz.
Pronto e acabou.
Não enrolou, não brincou.
Sem mimimi com a Helô.

Tem sentimentos a flor da pele
Ri quando graça háháháhá. 
Briga quando certa está
Chora quando vontade dá
Espera! Uma exceção:
Ponte de Macarrão. 

Glaura e Ricardo
Mãe e Pai 
Curitiba e São Paulo
Médica e Baixista
Improvável?
Admirável, amável!
Casal diferente,
Casal contente.

Manuel Nelson.
Saudades do vira-lata
Menos vira-lata do mundo
"Diretoria tá de pé, 
Aí, Mané!"

Continua tendo aquela
Carinha de criança, mesmo
Tendo 21.
Lolô, a menina-mulher
Que todos admiram.

Natalie Torres G.

Um oceano inteiro de distância

Um amigo
É tudo que eu tenho.
Um amigo.
O melhor que poderia ter,
Que poderia escolher.

É aquele não te deixa
Mesmo estando longe
A milhões de quilômetros,
A um oceano inteiro 
De distância.

Oceano
Lindo objeto de estudo.
Estuda em alemão,
Em inglês, ama latim.
Longe da família, longe de mim.

Sou daqueles que precisa
Das amizades por perto
Mesmo que longe.
Vou aí te ver
Nem que eu vire monge.

Sua mãe é linda e loira,
Sua irmã loira e linda,
Seu Jaime? Só risadas!
Seu Rafael? Só piadas!
Família encantadora, adoro
Sua palavra acolhedora.

Seu pai? Seu pai é teu guia.
Sua maior inspiração, 
Sempre vem do céu e nos dá
Motivação. Saudades, Bartô,
Saudades, momô!

Amigo, você me faz sorrir:
Com seu sotaque, 
Com seu jeito.
Quando cai no chão,
Não paramos de rir!!

Um ano passa rápido, eles dizem,
Na cabeça, sim.
No coração, nem tanto.
Sinto sua falta,
Mas, lembra do nosso canto?

"WHAT GOES AROUND, CAMES BACK AROUND"

Ou seja, 
Amigo que foi, volta.
Aaah se volta! 
Se não voltar, 
Vamos buscar!
Mas primeiro, dinheiro juntar.


I love you
Ich liebe dich
Amabo te
Te amo,
Tati.

Natalie Torres G.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Haikai de Segunda IV


Sonhos adolescentes
Acabam aos 20

Vim te encontrar
doce sonho




Natalie Torres Guariglia

Coisar, verbo coisa.

Coisar: verbo de ação, de estado e de ligação. Pode ser VTD, VTI, VTDI e VI, por isso, pode pedir complementos com ou sem preposições, aliás, pode nem pedir complemento... Pode ser que venha só um predicativo. Algumas vezes, depois dele vem a palavra "negócio" que nesse caso não tem sentido empresarial (business). Exemplo: Coisa o negócio ali pra mim?! Esse verbo deve ser conjugado como o verbo "amar", pois se encaixa na primeira conjugação terminada em "AR", aliás essa é a única regra fixa deste verbo tão utilizado no aqui no nossa Brasil. Percebi também que quando usamos COISAR com alguém conhecido faz toda a diferença, ela sempre vai entender o seu coisando a coisinha do negócio.


Natalie Torres Guariglia

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Desafio do Escritor CL - A Maldade do Carrasco

Desafio do Escritor Clube do Livro.
Os participantes tinham que escrever um começo para um dado final. O final dado começa depois dos -------. Espero que gostem. Para eu ganhar esse concurso preciso de LIKES lá no grupo. Quem puder entrar e curtir, agradeço. Não precisa curtir só o meu, curta todos que gostar. Obrigada =D Desculpe-me pela não formatação do texto.

https://www.facebook.com/groups/151543198387081/

Quando era criança, tinha sede de vingança por seu irmão, sempre que ele fazia alguma brincadeira, Elmmer não deixava barato. Gostava de sentir o poder de justiça vingada subir do coração, passar pelas veias do pescoço até os olhos, que se enxiam de sede, queria sempre mais. Foi um menino perturbado durante a infância e, principalmente, a adolescência. Não tinha amigos e não gostava de ficar por muito tempo em locais públicos.
Elmmer sabia que assim que pudesse faria sua vida valer a pena, não só pelos seus pais que haviam morrido, defendendo seu país (Congo), durante a Guerra Civil de 96, mas por si mesmo. Ele merecia ter um momento de redenção.
Quando completou 18 anos, se alistou no exército, reprovado. Não se deixou abalar, continuou lutando pela sua missão de vida: vingar seus pais. Seu povo também, eles foram injustiçados e perderam terras muito importantes para o cultivo e comércio. Não tinham mais de onde tirar comida e o pouco de dinheiro que tinham, foi embora. 
Não havia problemas no plano de Elmmer, até nos encontrarmos. Eu era membro do E.D.A. - Exército De Angola - lutávamos contra o país dele. Queríamos nossa parte territorial de volta dividida, injustamente, pelos EUA durante a segunda guerra mundial, buscávamos, assim como Elmmer, nossa vingança, nossa libertação. O que não sabíamos era que um soldado reprovado pelo E.D.D.C. - Exército Defensor de Congo- estaria ali para fazer o que fosse preciso para desforrar, retalhar seus pais e seu povo. Quando já tínhamos quase exterminado todo povo congolês, eles feito o mesmo conosco, apareceu Elmmer, um garoto de apenas 19 anos desarmado. Lutou com unhas, dentes, punhos e músculos (era tudo o que tinha) para fazer o impossível. Vencer o E.D.A., praticamente, sozinho. O cheiro de carniça invadia nossas narinas e eu, depois de mais de dez horas de guerra, corpo a corpo, já não podia mais lutar. Anoiteceu e fomos colocados num galpão, todos os 24 homens angolanos que restavam. Dias e noites de tortura demoravam a findar. 
Percebi que Elmmer tinha se tornado o Comandante Jr. do E.D.D.C., mas isso me trazia sensações de que ele ainda não tinha se vingado totalmente. Numa manhã, fomos levados para fora, vimos mais corpos jogados. Lá, também estava Elmmer de uniforme do exército e com um machado mão.


------------------------------------------------------------------------------------------------------------

“Uma imensa camada de putrefaria ia desenhando o local. Carne e roupa numa só mistura grotesca, derretida, que compunha o chão de maneira horrenda e espalhafatosa. Vejo os olhares enquanto somos pegos e jogados em cima dos outros. A multidão gritava, mas eu já não escutava, talvez por causa das pancadas que levei nas noites de tortura intermináveis, talvez por que não me importe mais nada. O carrasco estava impecavelmente pronto para exercer sua função sem escrúpulos algum, com instinto de assassino e torturador, sem nenhum tipo de piedade ou peso na consciência. Encaro-o por um instante, pensando como ele poderia assumir o peso de tantas vidas tiradas... ‘As pessoas têm a incrível capacidade de ser más exatamente quando querem. Ou talvez, a maldade seja a real natureza humana e nada mais somos que hipócritas aprendizes à altruístas’. Segura o machado com ambas as mãos, levanta-o, e desce uma única vez. Morrer não é difícil. Talvez seja a coisa mais fácil que exista e não tínhamos que fazer esforço algum a despeito disso. Mas morrer por uma causa não é fácil, aliás, é o que faz uma vida valer a pena.”